quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sonho de uma realidade perdida - Parte 3

Trazemos aqui a terceira parte da história que criamos chamada: Sonho de uma realidade perdida. Você pode conferir as duas partes anteriores aqui e aqui.

Caminhava ofegante pelo estreito caminho por onde o jovem de face entristecida anteriormente havia desaparecido. A escuridão que há pouco tempo cobriu os céus tornava a visão de Zyndal densa. Guiava-se apenas seguindo o feixe de luz que reluzia o seu destino. Enfim havia chegado ao encontro do jovem Zap. Aquela área em especial se diferenciava do resto da favela, pelo fato de estar banhada pela luz que escapava do céu. Ao olhar para aquela construção, moderadamente diferenciada das casas que encobriam o morro sem fim, tinha-se a impressão de ainda ser de dia, ao contrário de todo o resto daquele universo que havia sido consumido pelas sobras. Da porta da construção, saiam pessoas. Pessoas sorridentes trajando roupas de organizações humanitárias com mensagens de igualdade, harmonia e solidariedade estampadas nelas. Estas pessoas traziam sacolas com alimento e roupas. Uma moça de cabelos ruivos e encaracolados entrega nas mãos de Zap uma sacola com pão. Ao tomar posse da sacola, o menino exalta um grito, e convoca todas as outras crianças que ali residiam.

De todas as partes começaram a surgir crianças. Pouco a pouco elas se reuniam nas proximidades do círculo de luz. Zyndal se surpreendera com o número de crianças que se concentravam naquele local. Era um número muito maior do que ele jamais poderia ter imaginado. No meio de tantos, Zap se destacava, distribuindo o alimento que recebera com todos que ali estavam presentes. Aquela cena mostrou-se de uma beleza surpreendente, a qual cativou o coração de Zyndal. Encostado no muro de um barraco fitou a cena por alguns momentos, até ter sido bruscamente interrompida por barulho. O tiro de uma escopeta ecoou por toda a favela. O som distraiu Zyndal da sua fixa observação, e ao voltar o seu olhar novamente para a cena que encantou o seus olhos, percebeu que não havia mais ninguém lá, e o feixe de luz que antes iluminava aquela área lentamente fechou-se diante dos seus olhos, deixando nada mais do que escuridão por toda a parte. Ele ouvia vozes, ouvia disparos, ouvia o som de veículos subindo o morro. Ele ouvia o caos. O coração antes tocado pela cena agora encontra-se num momento de tensão. Zyndal sai em disparada. Tragicamente aquela era uma realidade consumida pela violência, assim como também consumida pela escuridão repentina.

Entre barracos acreditou ter encontrado um esconderijo da violência que se agravava na região. Sentou-se num canto para aguardar o término daquela situação. Com o passar dos segundos, o barulho apenas tornava-se mais agudo. Inesperadamente, a favela é tomada pelo silêncio. Uma vez tomado conta disto, Zyndal se levanta. As nuvens do céu tornaram-se menos densas, transformando a escuridão num cenário semelhante a uma fria manhã nublada. Ao seu lado, aquele vulto que anteriormente se manifestara quando as nuvens escondiam a claridade aparecia novamente apontando para alguma coisa. Mais uma vez seguiu as direções daquele ser misterioso. Eis que então sua vista é tomada pela surpresa. Uma casa é rodeada pela multidão, por sua vez bloqueada pela polícia. A violência mais uma vez toma a vida de um inocente. Tratava-se de uma senhora idosa. Zyndal avista novamente Zap. Sua alma é tomada pelo pavor, ao ver que ele possuía um olhar muito mais entristecido do que quando primeiramente se encontraram. Aquela não era uma senhora idosa qualquer. Ele ouviu da boca de uma mulher próxima a ele que ela era única pessoa neste mundo que havia restado para cuidar dele. As palavras da mulher lhe afetaram de tal modo como se tivesse levado uma facada no peito. Aquela pobre criança já não tinha mais quem cuidasse dele. O menino é levado no carro da polícia, morro abaixo.

Quando o carro já não podia mais ser visto a olho nu, Zyndal mantém-se perplexo. Todas as cenas que presenciou lhe eram de alguma maneira familiares. Era como se ele sentisse em dobro toda a dor que aquela criança sofria. Seu momento de reflexão era novamente interrompido pelo vulto. Desta vez, Zyndal notou algo diferente. Ele percebeu que a escuridão que compusera a essência daquele vulto refletia algo, como se fosse um espelho. Ao olhar fixamente para o vulto, viu naquele reflexo não a sua face, mas sim o rosto de Zap. Naquele momento, o vulto começa a tomar uma nova forma. Zyndal se afastava lentamente dele, enquanto crescia e tomava o aspecto de uma espécie de monstro. Uma face distorcida torna-se visível, e aos poucos se transformava, até finalmente tomar forma, não de um demônio, mas sim a forma da própria face de Zyndal. Uma face que exaltava ódio e temor. O vulto move-se na direção dele, encobrindo-o completamente. Zyndal não se encontrava mais na favela, mas sim caindo dentro de uma dimensão obscura, onde não havia nada mais do além do próprio nada.

Não perca amanhã a postagem da última parte da nossa narrativa.

Postado por: Alisson Tres e Patrícia

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