sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira


Este poema, de 1947, ilustra uma situação presente no dia-a-dia de muitas pessoas, onde estas têm de se alimentar de restos de comida, alimentos indesejados por outras pessoas que provavelmente pertencem a uma classe social superior, com mais oportunidades e com certeza com mais dinheiro.

Repare que no último trecho Manuel ilustra um processo de gradação, onde ele reduz o ser humano a praticamente nada, a algo inferior a um rato, deixando evidente o jeito como essas pessoas miseráveis são tratadas, como algo insignificante.

É muito doloroso refletir sobre essa realidade porque ela nos ínsita um dos piores sentimentos humanos, o de pena. Mas será que essas pessoas teriam um jeito de sair dessa realidade cruel? A resposta é não, pois em uma sociedade capitalista o que se valoriza é o dinheiro e não o sofrimento de alguém. Pessoas continuarão mendigando por um pedaço de pão, e morrendo de fome enquanto a sociedade não entender que elas não são inferiores a ratos, são gente como a gente.

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